quinta-feira, 27 de agosto de 2015

DOMINGOS MUOIO - A tribuna está vazia.





Costumo dizer que Advogados (as) não morrem.

Sem qualquer aviso prévio, deixam a petição incompleta, a piada pela metade, a caneta sobre a mesa e simplesmente “transitam em julgado”.

Assim foi com meu grande mestre Domingos Muoio.

Partiu da vida sem avisar, deixando a Tribuna do Júri mais triste e mais incompleta.

Não fui vê-lo em sua derradeira morada pois preferi reverenciá-lo guardando na lembrança seus momentos de grande tribuno e orador no Plenário do Júri.

Ainda estudante o conheci, com seu inseparável cachimbo.

Desde aquela época e ao longo de sua exitosa carreira foi sempre um amante inveterado da OAB, onde foi Conselheiro, membro do Tribunal de Ética e Disciplina e Presidente de diversas Comissões, entre outras participações voluntárias para a construção de nossa gloriosa Ordem.

No tribunal do Júri, principalmente da cidade de Santo André, construiu sua história e a justa fama de excelente orador e grande tribuno.

O velho tinha um truque...que jamais descobri se o fazia propositadamente ou era procedimento normal.

Na sustentação, tinha um momento em que ele se aproximava dos jurados, e olhando nos olhos de cada um ,com olhar paternal ou de um velho amigo e conselheiro, ele falava da prova, daquela prova que justificaria a absolvição do réu...

Aí...(olha o truque) ele se afastava vagarosamente e ia até a bancada da defesa, que distava uns oito metros dos jurados, e caminhando pausadamente pegava o papel, o processo ou a prova que ele queria mostrar, e voltava também de maneira vagarosa.

Neste momento, como que um encantamento ou uma hipnose, todos os jurados acompanhavam sua caminhada, ida e volta...

Senhores...., ali, por esta mágica inexplicável eu percebia que o Júri estava ganho.

Isso eu vi do mestre, e não foi nem uma nem duas vezes, diversas.

Jamais consegui entender a mágica ou fazer algo semelhante e duvido que alguém o consiga.


Mas ele se foi... e a Tribuna ficou vazia de sua presença, de sua mágica e de sua luz.


Deus o guarde e reserve uma tribuna para, que por lá continue fazendo o que em vida sempre amou.

A defesa está com a palavra...V.Exa terá uma hora e meia para a apresentar sua tese...

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Sobre ter Culhão - Clóvis de Barros Filho





Volta e meia encontro colegas que me falam que seu maior sonho é atuar em um plenário do júri.

Dizem que considera o ponto máximo da profissão e admiram aqueles que, como eu, tem coragem para pegar uma causa criminal de tamanha responsabilidade.

Então desolado dizem, acho que isto é uma coisa para uns poucos que tem muita coragem.

Se você pensa assim,  assista a este vídeo (Clóvis de Barros Filho – filósofo USP) e venha conosco atuar na atividade mais emocionante e com maior carga de adrenalina que você poderia vivenciar em nossa profissão.





sexta-feira, 7 de agosto de 2015

DIA DO ADVOGADO 11 DE AGOSTO




DIA DO ADVOGADO 11 DE AGOSTO - HOMENAGEM





(fragmentos extraído do livro  “O Salão dos Passos Perdidos”, entrevista com Evandro Lins e Silva - pag.111 e seguintes).

CONSELHO AOS MOÇOS
O senhor costumava sustentar suas defesas atando autores, personagens. Os outros advogados também faziam isso?
Sem dúvida. Nos grandes julgamentos, os debates descambavam normalmente para a discussão da doutrina. (...)
Ainda ontem eu estava fazendo a introdução de um livro que pretendo publicar, (...)
Na introdução desse livro, recomendo aos jovens que leiam, leiam tudo o que lhes cair nas mãos, romance, história, poesia, tudo. E muito importante isso. Por vezes, quando vou à tribuna — digo isso naquele livro “A defesa tem a palavra” — uso o que eu li como fonte de inspiração. No famoso caso Doca Street, reli Servidão humana, de Somerset Maugham, para mostrar o terrível drama do Phillip abandonado pela Mildred. Sempre usei o que pudesse sugerir uma metáfora para o julgamento.
Numa defesa, é preciso que haja também a apresentação de alguma coisa nova. Era minha preocupação, nos julgamentos, trazer alguma novidade, não fazer uma mera repetição de julgamentos anteriores.
Ou seja, é preciso ter criatividade.
Exato. Depende da imaginação do advogado a maneira de apresentar as causas. Deve-se apresentá-las de uma maneira que chame a atenção do juiz, que desperte o interesse naquilo que se está dizendo. A palavra deve exprimir o pensamento, e, se se conseguir que seja de uma forma mais bonita, melhor. O que é a oratória senão essa forma de, através de palavras, exaltar o belo e demolir o feio? Isso está primorosamente escrito por Latino Coelho, um grande escritor português, na tradução que fez da Oração da Coroa, de Demóstenes. Ele mostra que a oratória sobreleva tudo, tem um pouco de poesia, tem o encanto até da arquitetura, tem algo da medicina, de todas as artes e ciências.
Deve-se ter a preocupação de encontrar formas de dizer elegantes, apropriadas, adequadas, mas, ao mesmo tempo, convincentes, porque o discurso do orador forense não é o discurso pela palavra em si, ele tem que exprimir alguma coisa de concreto. Também digo nesse meu livro que não quero saber se falei bonito, quero saber se falei útil. O advogado não pode querer ser o personagem do processo. Ele é um dos participantes daquele julgamento, mas não é o personagem principal, porque o seu discurso tem uma finalidade, tem um objetivo, que é favorecer a pessoa que lhe confiou o patrocínio do seu interesse. Ele não deve estar preocupado com o seu brilho pessoal e sim com a capacidade de persuadir, de convencer aqueles que o ouvem daquilo de que está convencido, em favor do seu cliente. Isso me parece muito importante para compreender perfeitamente o exercício da profissão. Ao mesmo tempo, o advogado deve agir com equilíbrio, apresentando soluções razoáveis. O advogado que apresenta uma solicitação despropositada, disparatada, não tem êxito jamais. E preciso  que ele tenha sensatez na apresentação dos problemas que leva ao juiz. Isso é muito importante. Quando digo a um jurado que a cadeia é nociva, é contraproducente, é uma jaula reprodutora de delinqüentes, estou afirmando uma verdade, e daí eu tiro a conseqüência lógica: —ora, mandar este homem para tal lugar não é eficiente, nem útil, do ponto de vista do interesse da sociedade. A conclusão é que o jurado deve evitar que aquele cidadão, para quem a cadeia não é solução, seja enviado para aquele meio nocivo e prejudicial a uma recuperação.
O conjunto de qualidades do advogado é muito importante no êxito das causas que patrocina. Isso não quer dizer que o advogado tenha que ser sempre, necessariamente, um vitorioso. Ele poderá obter um resultado que não seja a absolvição, um resultado intermediário, uma atenuação da pena. Por exemplo, quando se pede a pena de morte, nos países onde essa monstruosidade ainda existe, se o advogado consegue evitar essa solução e obtém uma prisão mais longa ou até mesmo a prisão perpétua, é um êxito: —ele evitou a perda da vida do réu.
(...)
O senhor instruía os novos advogados a estarem sempre atentos ao aperfeiçoamento da ordem jurídica, o que estaria intimamente ligado à justiça social. Além de exortá-los a sempre alertar os juízes para os males da prisão, o senhor os incitava a lutar para que o acesso à Justiça seja garantido a todos.

Sim. Em todas as minhas intervenções, tenho destacado que o advogado, antes de ser advogado, é um cidadão e, antes de ter deveres para com interesses privados que eventualmente vá defender, tem deveres para com o seu país. Ele não pode estar envolvido com aquilo que seja contrário ao interesse nacional, defender interesses apenas por vantagem pessoal. Ele tem que ser, antes de tudo, um bom cidadão. Deve também se preocupar com o aprimoramento do Poder Judiciário, o funcionamento da máquina judiciária. (....)

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

HOMENAGEM AOS BACHAREIS, ADVOGADOS E ESTUDANTES DE DIREITO

Na pessoa da Dra. Lygia Souza Lima, OAB/SP 30.318, quero homenagear todos os Advogados, Bacharéis em Ciências Jurídicas e Estudantes, no mês em que se comemora 188 anos da implantação dos cursos jurídicos no Brasil.

De lá para cá, muita coisa mudou, mas não o empenho de cada um de nós, profissionais, na defesa intransigente da Constituição, do Estado Democrático de Direito e das liberdades.

Dra. Lygia Souza Lima OAB/SP 30.318

Minha grande colega, que milita no direito criminal há décadas e que é uma referência de dignidade, honradez e dedicação ao Direito,  sempre nos conta uma história acontecida com ela, ao estilo das músicas do Bezerra da Silva  e com certeza parte da história deve ter acontecido com muitos de nós, sofridos profissionais da Advocacia.
Conta ela que tinha um cliente pelo qual sempre trabalhou em defesas criminais.
Mas o varão não se emendava. Por inúmeras vezes ela defendia e colocava o cidadão na rua, mas demorava pouco tempo e lá vinha a esposa dele batendo á sua porta e a procurando para livrá-lo de mais uma enrascada criminal.
Da ultima vez que foi para a rua, seu cliente acabou sendo morto pelos “rolos”em que sempre se metia.
A lendária advogada foi até o velório.
Olhou para o defunto, constatou a morte...
Naquele  momento se aproximou a viúva e disse-lhe: Obrigada doutora por comparecer ao velório e ser solidária neste momento de dor em que parte nosso querido “fulano de tal”.
A ilustre colega então, com o olhar compungido, cara de bastante comovida deixou correr uma lágrima e apenas balançou a cabeça em tom de comoção e sentimento.

Foi-se embora e depois comentou com os colegas: "Fui no velório do infeliz para confirmar se era ele mesmo e chorei porque ele foi embora me devendo uma tremenda grana."
Nunca mais recebeu os honorários, mas até hoje a viúva faz boa propaganda da colega advogada:

 - Esta sim é uma boa advogada, acompanha o cliente até o dia de sua morte e ainda chora por ele